A Regressividade Tributária no Regime do Simples Nacional: 

Por Ricardo Cione

O Simples Nacional, criado em 2006, surgiu como uma solução tributária voltada para microempresas (ME) e empresas de pequeno porte (EPP). Seu objetivo é tornar mais simples o processo de arrecadação de impostos e aliviar a carga tributária desses negócios. Ao unificar tributos federais, estaduais e municipais em uma única guia de pagamento, o regime foi desenhado para descomplicar a gestão fiscal e oferecer um tratamento tributário mais favorável, promovendo o crescimento das pequenas empresas. 

Contudo, um ponto que tem gerado debates é a questão da regressividade tributária, que, em certas situações, pode prejudicar o avanço dessas empresas.

A regressividade ocorre quando, proporcionalmente, o peso dos tributos aumenta de maneira desproporcional conforme cresce a receita da empresa. Embora o Simples Nacional tenha uma estrutura progressiva, com faixas de faturamento e alíquotas diferentes, o salto entre essas faixas pode levar a aumentos abruptos na carga tributária efetiva, impactando negativamente empresas que estão apenas começando a expandir seus negócios.

No Simples Nacional, as empresas são classificadas em faixas de receita bruta anual, cada uma com uma alíquota específica, que varia também conforme a atividade desempenhada. Quando uma empresa aumenta seu faturamento e passa para uma faixa superior, é aplicada uma alíquota maior. 

O problema surge principalmente na transição entre essas faixas. Esse aumento, pode resultar um impacto significativo no custo tributário, especialmente para empresas com margens de lucro reduzidas, que não conseguem absorver facilmente essa diferença.

Além disso, o imposto no Simples Nacional é calculado sobre o total da receita bruta da empresa, e não apenas sobre o incremento de faturamento que ultrapassa a faixa anterior. Isso faz com que a alíquota média, ou efetiva, aumente de forma desproporcional, criando um peso maior do que o esperado no orçamento dessas empresas.

Essa situação afeta principalmente microempresas e pequenas empresas que estão em fase de expansão. O aumento repentino na carga tributária pode dificultar o crescimento sustentável, já que muitas dessas empresas operam com margens de lucro estreitas. Em diversos casos, isso leva os empresários a evitar expandir suas operações ou, a buscar um crescimento mais lento, temendo ultrapassar o limite que resultaria em uma maior tributação. Essa dinâmica é especialmente visível em setores como o comércio, onde as margens de lucro são pequenas, apesar do grande volume de vendas.

Entre as soluções discutidas para reduzir os impactos da regressividade no Simples Nacional, está a necessidade de ajustes nas faixas de tributação. Tornar as transições mais suaves e graduais pode ajudar a diminuir o impacto sobre as empresas. Outra alternativa seria alterar a base de cálculo, vinculando os aumentos na carga tributária ao crescimento do lucro, em vez de apenas ao faturamento bruto. Dessa forma, o regime seria mais justo, evitando onerar desproporcionalmente empresas que estão apenas começando a crescer.

Embora o regime do Simples Nacional tenha sido uma ferramenta essencial para incentivar a formalização e o fortalecimento das micro e pequenas empresas no Brasil, seus desafios estruturais, como a regressividade, apontam para a necessidade de revisão. Um regime tributário mais justo e equilibrado pode não apenas incentivar o crescimento dessas empresas, mas também garantir sua estabilidade financeira a longo prazo, promovendo um ambiente mais favorável e confortável para o empreendedorismo.

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